terça-feira, 24 de setembro de 2013

Muito

Quando há paixão,
tudo é muito.

E muito de mim
espalha esse muito.

Colhendo outros
muitos
doando sempre
muito
o que há de muito
em mim.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

Riacho



Ri, acho que ri
Cacho rodando
Cachorro dando
Cambalhota torta

Acho que riacho riu
Rio de quando em vez
E o rio riu do riacho
Acho, mas só acho
Macho, machucado, caldo
Caducado cardo
Acho que um bocado
De gente que ri
Rima.
Gosto do som das palavras
De separá-las em sílabas 
De recriá-las
Trocar uma letra ou outra e
Confrontá-las
Tudo conforme formem
A minha fome de forrá-las
De plural
Varal de falas
Vala de farras
Todo sentido
É sentido
Nesse varal sem amarras.
Escuto em uníssono
Os cantos dos olhos 
O sono unindo as pestanas
O som de esticar persianas
E o abismo, dono de tudo
A prova diária da morte 
O sonho
A vulnerabilidade consentida
O sonho
O aconchego, a concha, a colcha 
chegando
O útero e, novamente,
A sombra
Do sonho.
Conserto
Concreto
Com credo
Armado

Mas o pulo
Sobe o muro
Manipulo 
do gato.

segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Joio, ou trigo no métrico

Gérmen de trigo
Geme me intrigo
Trago e me entrego
Tudo daquilo
Outro tropeço
Ou truque peço
Meço, mereço
Ver só o verso.


André Vargas
Que nome dou
ao nome que me dá
nomínimo
nomenino
nomeio
nome ar.

Abricó

o abricó doce
encorpado
caído meio de lado
na noite
já abriu cá
bom bocado
do gosto gostado
e danou-se

fruta de quintal
quinta-feira
feira de rua
sem saída
Ida sem saia
linda fruteira
o abricó doce
trepa na língua

cheiro de percevejo
ventado
percebo e vejo
um beijo de vó
molhando a pele
rosto rosado
fruto danado
doce abricó.


André Vargas