quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
poema amarelado
o meu amor
defendo com um xaxado
não o quero tatuagem deste mundo
desejo antes
o amor-filhote
para cima, para baixo
carregado
bilingue a dois, nós
saber suas peças
catar o que lhe escapa
enterrar as promessas
para o sim, para o não
recarregado
um amor criado
à prova de m'água
que more na selva
sem nome sem contato
querendo seu namorado
N.N.
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
Goya à beira
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
Dose
Aguardante veneno
O esperado “de repente”
De rompante condeno
Derrapante calhambeque
Alambique de feno
Transformo-me num delinquente
Delatando boleros.
Transborda a alma corrente
Grilhões de mil vis austeros
Aos teus pés descalçados
Descompassar dos cadernos
Bonitas frases rimadas
Odes ao ódio sincero
Que encerro ao cerro dos punhos
Ao serrar do visgo do erro
Canteiro de vidas jogadas
Cruel cemitério do medo
Vícios do início do vício
Suplícios do álcool que bebo.
Sou mais vivo quando erro
Mais dono quando entrego
Sou mais eu quando me nego
Soldado de chumbo
No fundo do mar
Ainda caindo.
Vou descendo vertigem
Descendendo de virgens
Decadente de origens
Dessas dos santos que fingem
E infringem dosando fuligens
Que seus mantos brancos dirigem.
Rasga-me o último gole
Amei-o...
No corpo cheio
Nu
No copo vazio
Cru
Meio que me nomeio
Um.
André Vargas
Like a oswald
fellini cheio de dente
ata que o pico
PAU
na semente
que o tal pica
explico
é pique pra gente
Neves
domingo, 18 de dezembro de 2011
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
Diverso
2 de longe
3 para perto
4 a sentir
chegar
é o verbo
de onde mais gosto
de partir
Nenheu
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
Mofo
Mofada e estampada
Queimando a mufa cansada
Deitado, sem fazer nada
Vendo programa do Jô
Camuflada
Mudo a bermuda manchada
De gotas grandes e enlatadas
Desgostos e de um bom Nescau
Só eu e a madrugada
Drogada e sem previsão
Só eu e a madrugada
Feita de televisão.
André Vargas
Casca de pão
Ser inteiramente feito de broa
De café, de coisa à toa...
Se eu empapuço o papo breve
Engasgo
E na garganta não há nada
Espasmos de calçada
Alçada que me serve
Canteiro sem planta
Distancia que enerve
De nada me adianta
Dizer o que não serve.
André Vargas
sábado, 10 de dezembro de 2011
Despertado!
Antes de entrar
Antes de entrar tem que pedir licença
Antes de entrar
Denise no chão com abelhas
Na cama com alfas
Experimentando impurezas
Na cama sem alfas
Despertado!
sexta-feira, 9 de dezembro de 2011
Hermetismos pascoais
seu olhar fez barulho
depois, muitos dias
seu olhar fez ritmo
tudo interrogo àqueles olhos
e minhas respostas são notas
pra qual das sete se muda seu sim?
e mais seu olhar compõe
e me atrai no assobio
e faz caminho,
sigo,
entra num ouvido
sai pela minha boca;
desafina
esses olhos
própria melodia piscam
e brinco com eles
detetive
tudo interrogo àqueles olhos
par soante,
mais música responde
e brigo com eles,
assassinam
dois instrumentos
solando às esquinas
me aviso em seu lugar:
sua, menina.
Nenheu neves
Fisiologia do E aí?
letras, frases todas
as canetas
tosse:
no momento cumulonimbus
a energia pára
alguém se queima
eu incenso:
compasso do chuviscar.
displicente sorriso
é um doce denso
é um presente derretido
alagando seu abrigo
Nenheu neves
Cigana que eu gosto
lindo
ele vai justificar o domingo
terá belos cílios e belas mãos
para lhe desmanchar os nãos
clarissa vai encontrar uma mala
linda
ela vai justificar sua saída
do trabalho!
vai achar o valor de 500.000 vezes o seu
salário!
clarissa vai encontrar a gente
maria, carolina, bárbara, tayza, lívia
no meio da enchente:
- por favor uma pratinha
somos carente.
ela vai se comover
e se empenhar bravamente
virar doutora,
depois presidente!
Nenheu né
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
New Stars
A fucking-bloody-shit coming from hell
A sort of Turguêniev first love
A bottle of whisky from Cassady
My personal paradise between my eyes
(new stars)
God is holding my head
(new stars)
With the tip of the fingers yes
(new stars)
You may think it's disguisting
(new stars)
But it's carrying me where
A sort of frozen kiss in a box
Sent by a princess from her castle
A sort of Lewis Carroll's character
Or a new adventure from Sawyer
My personal paradise between my eyes
(new stars)
God is holding my head
(new stars)
With the tip of the fingers yes
(new stars)
You may think it's disguisting
(new stars)
But it's carrying me where
I can walk on eggshells
In a blue field
And use a chainsaw
To cut my fallen tree
I can walk on eggshells
In a blue field
New stars
sábado, 3 de dezembro de 2011
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
Sim-crônico
- Politeísmo do Não -
Negando em qualquer idioma.
Deuses fajutos dos rebeldes
Do idiotizado axioma
Do habitual “pedir perdão”
Nosso chiclete de goma.
Devo e vou ouvir seus olhos
Habitando meus tornozelos
Lambiscado de outras orelhas
Devo e vou retê-los...
...Um dia
Sincronia sutil
Da sônica soneca do vento
Enquanto sozinho, o frio
Sozinho é o meu pensamento.
André Vargas
terça-feira, 29 de novembro de 2011
Questões de prova
de quantas maneiras se pode amar?
aponte o prazo para um coração aprovar.
seu amor não é brinquedo?
amor com pena e reclusão
é medo?
quem me ensinou a policiar;
abrir o olho, fechar a boca e esperar,
pois Início
é dever do lado de lá?
ana devora palmitos
ana devora seu namorado
o pedro
certo dia, devorando palmitos
disse a pedro:
dependendo do emissor,
eu te amo pode ser bom dia
nem terminada a frase
e pedro caía.
encontre o erro.
assinale:
sagrado amor, amar-é-miar
novela das 18
e/ou
querido amor é o ansiado
íntegro, segundo biscoito!
e quando amar
é encher? disserte.
e quando amar é mexer... compare!
com base em Vatapá (CAYMMI, 1957), meditar:
nega baiana, venha nos ensinar
agora ligue todos os pontos
agora valendo todos os pontos
cite o descobridor
da fórmula
do falso e do verdadeiro
do limite
e onde ele está
entre cada sentimento que faz gostar
Nenheu neves
domingo, 27 de novembro de 2011
The River
River
Tell me some truth
Why can't you
Stop deceiving me?
Is it so hard to give up
Of that pleasure? Tell me, where is she
River
Is it possible to reborn?
At least to indoor
Of a world without her?
Are you trying to show me
That I shouldn't care? Tell me, where is she
At this time? Tell me
Where is she now? And if
She will come back to me
Eighteen degrees below
The sky and I still
Can't see beyond
Baba imperial
a par, à mercê do tempo
arrastando as palmas nos muros,
um trago eu recomendo;
a sós
de ideias canhotas
de costas pro monumento
meus olhos são gaivotas
Nenheu neves
quinta-feira, 24 de novembro de 2011
Do outro lado da calçada
Sobrado em cima de sobrado
Léxico do picolé
Não se pode perguntar!
Ninguém te deixa deixar o chá
A congelar num palito em pé
Mas a pergunta arguta estapeia
A face de cristal, nessa peleia.
- Como é?
O “como é?” estraga a capa artística
Belisca o braço de quem devaneia e vai
Achando que o não-pensar é mais
Do que o não-ser não é
Pré-socraticamente estiloso
E felizmente mente
Posto que tudo isso, por mais belo,
ainda é mimeses Platônica.
- Não!
Não é o efêmero e o inexplicável “senão”
O poema não é sandeu, nem barato como a loucura
Poema é esforço real da carne dura
Não é espirito
O poema é criatura.
André Vargas
quarta-feira, 23 de novembro de 2011
Deixa sangrar II
terça-feira, 22 de novembro de 2011
Ruído
Na altura da dor e do latido
Escondia sua pele
E era nutrido
Por serpentes
Carentes de ouvir.
E do porvir
Provinham suas mais duras risadas
Menelau
Guardava no que viria
A caminhada
E vivia no escondido
Do sumir.
André Vargas
sábado, 19 de novembro de 2011
À Nenheu
Borboleta tu
Borboleto eu
Onde é teu casulo?
Onde voo meu?
Onde é meu casulo?
Onde voo teu?
Borboleta tu
Borboleto eu.
André Vargas
sexta-feira, 18 de novembro de 2011
terça-feira, 15 de novembro de 2011
A praça
As crianças passam correndo...
Folheado de queijo
Esticados
No beijo, a baba
Ele acaba comendo beijo
Folheando, vez por outra, um livro surrado
Ela acaba com o beijo no meio
Para comer outro pedaço
Folheando os beijos entrecortados.
Convida pelo assovio
A passear com os pombos, o louco
Que leva nos trapos as marcas
Dos tapas e dos tombos
E tem razão de perder a razão
O louco assovia na certeza insana do tom.
Ensebado cabelo preto
De brilhantina antiga
O velho ainda tem brilho nos olhos
E nos olhos, a fadiga
E na fadiga, a constância
E Constância já faleceu.
A velha reclama, mas senta
No banco duro da praça
Não dura nada e levanta
Reclamando da graça
Graça é o seu nome.
As crianças passam correndo...
Comendo
Assoviando
Brilhando
Reclamando
...E somem.
André Vargas
Induzindo Vertigem
Eu percebo como era
Há muito tempo atrás
Como Adão
Eu não acho isso demais
E quero ir até o fim
Induzindo vertigem
Espelhos vazando verdade pelo chão
Azul
Azul
Azul
Azul
Azul
Azul
Azul
Azul
Azul
Azul
Azul
Azul
Azul
Azul
segunda-feira, 14 de novembro de 2011
Lugar nenhum
Vomito o medo
Lugar Incomum
Entranhas contorcionistas
Estranhas tacanhas conquistas
Para quem não sai do lugar.
Preso em mim
Solto no texto
O medo é o meu pretexto
Para escrever o que não quero falar.
André Vargas
Lugar-comum
Quisera ser sem terra no campo imensurável do qual a lua minguante é vigia.
Quantas flores brancas, delicadas, dedicadas,
Quantas flores fui crescer no solo ingrato
Em que eu jazia...
Quieta, madrugada;
Mais amargo ainda
É regá-lo ao meio-dia.
Ao encontrar alguém desabrochando no Jardim do medo,
Use o sal da sua voz, dos olhos, do chamar – instrumentos de cultivar
Use-os, por calor.
Podar o medo
Na mata escura do juízo
Não deixar que ele avance
E vire um paraíso.
Nenheu neves
domingo, 13 de novembro de 2011
"Reféns do Medo"
As pessoas viram reféns do próprio medo.
Em várias situações e circunstâncias deixam-se levar pela imaginação.
Medo da chuva, medo do escuro, medo da morte, medo de amar, medo de ser feliz.
Existem tantos medos, e pra que tudo isso? E porque sentirmos essas sensações estranhas?
O medo domina, ironiza a mente da gente.
A imaginação acaba criando um episódio de terror, parece tão real o coração bate mais forte, as pernas tremem, o frio na barriga chega devagar e quando nos damos conta ele chegou, apavorou , dominou o Medo.
Sempre, sempre ele que ás vezes nos faz desistir de tantas coisas, nos faz perder os sentidos dos caminhos.
Quem não virou refém do medo um dia?
O medo vive constantemente na vida da gente e não tem saída do coração e nem da mente.
quinta-feira, 10 de novembro de 2011
segunda-feira, 7 de novembro de 2011
Novo ato do novato
Dizer sem ouvir
Escrever sem revisar
De que serve nossa subjetividade
Senão para anular?
O outro sujeito
Suspeito
Malfeito
Intuito fortuito
De não se expressar.
Divagar demais pode ser devagar demais
Tanto, que tropeçaremos em nossa língua torta
Tanto, que bateremos a nossa cara em falsa porta
Tanto que a poesia, falecida, nasce morta.
Tantos poetas se escondem na Fantasia
Que se esquecem de rimar a vida com "bom dia!"
E de remar com os braços rijos
E de nadar na calmaria – Boiar é coisa para letargia!
Tantos poetas e nenhum desafio
Nenhuma novidade em seus olhares
Nenhuma solução em suas rimas
Nenhuma pista do que seria a sua via.
Nenhum deles... – pobre de mim! – Todos eles feitos de ventania–...Nenhum deles, quando se nega a dividir,
É poesia.
Mole pra emílio
domingo, 6 de novembro de 2011
Loboralismo
me pôs às ruas
e zanzando
malacordado
contava a solidão
nos centavos
assim, ordeno meu dia:
cólera, coleira ou poesia
as velhas na janela
com o dia a preencher
malícia desde a hora seis:
"como que isto pode?
senil aos 33!
e o demente levanta cedo
cego d`um olho
louco do outro
esse dá trabalho pra morte"
Nenheu neves
sábado, 5 de novembro de 2011
Mureta
Entreolham-se, esquadrinham-se, estudam-se...
Desacostumado
Envergonhado
Banguela.
E também mostra
A sua janela.
sexta-feira, 4 de novembro de 2011
Opostos
quarta-feira, 2 de novembro de 2011
O xale e a bengala
terça-feira, 1 de novembro de 2011
Último Pedido
Um café
Não me recordo de quando me tornei tão descritivo
Quando fiquei tão discreto? Tão prescrito?
(In)concluo.
Dia frio é o meu favorito
Para só ver e sorver assovios de janelas
Cheio de detalhes entalhados vivos
Nas poucas lembranças de ser tão externo
E na doce lembrança de não ser tão nítido
Eu resfrio as juntas do dedo
E, em segredo, junto-me ao calor do frio.
Nos dias frios o olhar negro da xícara nos encara mais efusivo
De relance, mas um relançe contínuo
Realça e lança sobre nós o próprio vício.
Há pouco de mim nas paredes da constância
Estou totalmente, pelos quadros na parede, absorvido
Perdido
Absorto em só detalhar o entorno
E pelas molduras robustas perseguido.
Entorno sobre minha roupa elegante
Um gole quente e errante de vivência
Sinto queimar a pele
Sinto a pele ardente
Sinto, no limite extremo de minha vida, a clemência
Divinamente escondida
A carpe: superfície individual, a margem da doutrina, o fio do egoísmo...
O exterior, suplantando o interno nevralgico, me convida
Ao simples decorar das coisas, dos ornamentos
Ao arrepio frívolo do não-sentimento
Pois nenhuma reflexão é tão importante quanto flexionar o sujeito, o alheio, o joelho, o cotovelo...
E me convém, agora, escrever nesse espelho
Que se forma na superfície dura do mim
Do mingau
Do café
Do mundo.
Bebo o resto, peço a conta, pago e saio mudo.
André Vargas
sábado, 29 de outubro de 2011
Em torno do eixo
sexta-feira, 28 de outubro de 2011
Palhaço
quinta-feira, 27 de outubro de 2011
Xô vê...
A calçada
A poça d’água
A barra da calça molhada
As pessoas apressadas
Os guarda-chuvas em duas tomadas
Em cima guardam chuva
Em baixo, pensamentos
Vento
Homens de casacos
Mulheres de jaqueta
A criança e o passatempo
O bebê de toca rosa
Cachecol, capa e sobretudo
Um surdo-mudo falando sozinho
Um segundo de passarinho
Mulheres de minissaia
Pernas gordas respingadas
Arte temporal
Varizes e gotas de lama
Sandálias
Pés imundos
Esmaltes descascados
Calçados cansados
Mocassins
E afins
Inundação num segundo
É riqueza para se olhar
Lixo se joga no chão
Boneca a nadar
Sem os braços
Rato morto
Saco plástico
Água entrando na escola
Garota cheirando cola
Viaduto
Adulto
Maluco
Bêbado babando
Bando de trombadinhas
Trombam nas senhorinhas
Moleque a se divertir
Velha debaixo da árvore
Casca de batata pirata
Caminhão que escolhe
Molha quem se encolhe
Xingos
Mendigos dormindo
Risadas
Buzinas, silêncio do mundo
Passarela
Passa ela
Por cima da rua
Quase nua
E está frio
Vai garota do centro do Rio
Arrepio
E ela vê
E ela passa
Como o que é bom
Escada carcomida
Ferrugem nas veias da cidade
Camelô
Lonas azuis
Almas à prova d'água
Pistolas de bolha de sabão
Olha o pesado
Pesadelo
Bicicleta do velho sem emprego
Restaurante de pobre comer
A comida é joelho frio
Chinês sujo
Unha preta
Dente amarelo
Um suco de caju quente
Para empurrar a massa
Entornar no balcão
Molhar a palavra
Encharcar a sede
Inundar a alma
E, então, dizer:
- Até que é bom!
- Até que é bom!
- Até que é bom...
Chover.
André Vargas
domingo, 23 de outubro de 2011
Brincantes, por favor
aos aboios, às ayabás:
auê nos olhos da moreninha
algum mal não está partindo
e faz de seu lamento, perna.
dos senhores oficiais,
a autoridade das rabecas
pifes pandeiros alfaias
é paterna.
para casos de perda
fraqueza ou festa
é favor fazer roda
homem e mulher
todos adentro
os devidos bons cumprimentos
boa noite, todos
mães, tias, donas,
meninas
licença para as flores
para as saias, palmas e cantores
eu também vou ralar coco
eu também vou pisar o coco
pegar rapaz e umbigar
tudo o que seu mestre tocar
para os casos supracitados
acredito
também
no solo, no par e no cordão
bote essa menina pra dançar
que sozinho o corpo reza
para fins de proteção
Nenheu neves
sexta-feira, 21 de outubro de 2011
O Bêbado
quinta-feira, 20 de outubro de 2011
O contador de histórias
Soneto - Queixas e deixas
Mal sabe ela que me deixa sonhando
Ela me deixa um pouquinho
A cada vez que nos falamos.
Como só, eu me vejo sem ela
Ela me deixa e eu fico
Ela se queixa de mim
Ela se queixa de qualquer outra forma de amor.
Quanto mais eu puder sonhar
Mais eu tenho a lhe querer.
André Vargas
quarta-feira, 19 de outubro de 2011
Outono
E ao perceber a minha situação, caí ao chão com falta de ar de tanto soluçar. Chorei feito criança. Estava largada no chão, sem mais esperanças naquele quarto escuro, onde esperava por mais uma noite de abuso e sofrimento.
Lívia Frias
Ela e o Vento
Conversando sem trocar palavras
Se tocando de uma maneira divina
Na qual perdia-se as travas
Até que a calmaria cruzou a esquina
E acabou com o assunto
Na solidão a menina
Na saudade do conjunto
Saudade das coisas que o vento dizia nos cachos dela
Como a força do ar dizia tudo sem fala
E o choro que não dava trela
Incrível como a tarde cala
Até que alguém apaga a vela
E um tufão tagarela
Chega pra lhe encher de vida
E bagunçar sua sala.
Caio Vargas
terça-feira, 18 de outubro de 2011
A Beleza do Ser
Ser feliz é simplesmente ser
O que você quiser!
Que faça os outros felizes
E acima de tudo você
Ser verdade
Sem vaidade por si só
Serenidade
E um pouco de dó
Dó maior
Guilherme Braga
segunda-feira, 17 de outubro de 2011
Cem no chão - um conto na mão
Achei uma nota de cem na rua. Esperei para ver se o dono vinha. Não veio. É minha! Andei mais uns oito passos e comprei um maço de importado. Nicotina de qualidade, não vende no posto Ipiranga. Larguei daquela mocréia e paguei uma mais cara, e a cara era perfeita. Parecia artista da Globo! E era uma danada. Sabia o que fazia e fazia com gosto. Mas um galo, com essa dona, fugiu do meu achado. Guardei o outro galo no bolso. Estou magnata e tudo é breve. Mas mantenho um sorriso leve. E um olhar retardado no rosto. A chuva parou e o sol apareceu. Quem sabe? Fui à praia! Nem gosto, mas fui... Com meus óculos escuros de ver bundas sem virar o pescoço. Elas não percebem, mas sentem... Sei que sentem. Eu como com os olhos e sou olho grande! Ganhei cerveja de graça da dona da barraca e o Mate Leão estava três por cinco. A água do mar estava morna e cristalina, nem precisava urinar. O mijo era luxo excedente. A vida estava um brinco e eu queria era brincar. Meu bronze ficou no tom. Voltei para casa e o almoço estava pronto e quente. Cheirava a delícia e acompanhava uma aguardente. O banho era quente e a cama era só minha. Beleza de nota de cem que alguém ficou sem! Que culpa eu tinha? Se eu um dia achar um conto no chão aí é que fico bamba. Viro empresário. E paro de escrever. Afinal, um conto já estaria pronto e na manga.
André Vargas
Seja bem vinda!
domingo, 16 de outubro de 2011
Intimidade
Uma varinha
De dar em lombo de guri
Treme antes de sair
Da árvore.
E o guri
De levar varinhada no lombo
Treme ao subir(fugindo) no tronco
Da árvore.
Árvore de fugir
Árvore de penalizar
Intimidade no amor é conhecer quem te faz chorar.
É o tremer temendo - das pernas
E o tremendo temer - das folhas
Intimidade no amor é o castigo escolher
Que doa!
André Vargas
sábado, 15 de outubro de 2011
quinta-feira, 13 de outubro de 2011
Contagem regressiva
Décimo andar. Aponta o ponteiro. Eu moro aqui. Escolhi esse apartamento, pois nessa altura o vento é mais forte e frio. As portas se debatem e, tremem de medo, as janelas. O ronco vultoso de Deus me mantinha acordado. Vivo. Ainda. Ah, as grandiosas Janelas! Meu caprichoso capricho! Não sei como cheguei a elas. Arrepio.
Nono andar. Descemos bem devagar. Como os últimos dias úteis, que me furtavam a vida aos poucos. Inúteis como somar. Nesse andar morava um saxofonista. Ele tocava antes de chorar. Mas chorava mais alto e bonito. Pobre homem, pobre homem! Essa canção tão batida.
Oitavo andar. Andar dos cachorros. As donas - todas iguais - sempre se juntavam nas reuniões. Sentiam-se fortes como dobermans e em seus colos, poodles! Faziam reivindicações. Latiam. Rosnavam. Mordiam. Todas num só andar. “Andar do cão!”, eu dizia. “Cadelas carentes”, eu pensava. Fecho os olhos com força.
Sétimo andar. Não me recordo de quem morava ali. Cogito um velho moribundo. Covarde para partir em vida. Esperando a morte levar seu corpo, que já não é vivo há muitas existências. Ou um viciado. Ou um sem serviço. Ou um casal apaixonado... Suspeitos! Quem sabe o monstro que mora no, sempre, desconhecido? "Estou perdido!". Reabro os olhos.
Sexto andar. Morava um moleque chato e uma mãe linda. Os outros vizinhos não são tão chatos quanto o guri, nem tão lindos quanto a mulher. Não vale a pena me lembrar destes. Mas essa mulher povoou meu pensamento quando cheguei aqui e resquícios de vontades me invadiam a qualquer momento. Ainda agora consigo a imaginar nua. "Vadia! Mulher de merda.". Minha querida, linda, mulher!
Quinto andar. Morava aqui uma senhora que vendia quentinhas. Falta de amor. Falta de sexo. Falta de ar. Falta de dinheiro... Mas desabrochava humor a qualquer. Traste ou boa praça. Era temperada de graças. Graças a Deus! Santa senhora! Risonha, educada... Feliz! Vai viver até uns cento e vinte... E cozinhando! Fazia-me lembra de minha saudosa mãe pela candura. Metade do caminho percorrido! Rompem-se os tímpanos.
Quarto andar. Os playboys universitários. Nenês em fraldas. Mamadeiras de vodka. Mimos dos pais. Ricos do interior. Darão bons advogados, com certeza! Merda para se pisar e feder. A distância desse futuro ingrato já me deixa feliz. A distância de qualquer futuro é um assombroso alívio e uma estranha esperança. Desse andar já consigo ver os ladrilhos, os canteiros, as flores, a terra. E consigo imaginar esses enfeites em cima de mim.
Terceiro andar. Andar da síndica. Mulher de meia idade. Sem romance e sem paixão. "Desgraçada!". Rainha das multas e das sanções. Passa rápido esse andar. "Essa puta devia estar aqui comigo!". O vento é quente. O ponteiro aponta o chão.
Segundo andar. Perco o ar. Duas lágrimas caem. Chegarão antes de mim. As veias saltam. Um puto joga um resto de maçã pela janela. Isac Newton!
Primeiro andar. Último arrepio. O coração pára. Ali morava Clara. Ela vai saber. Ela vai chorar dias e dias. Tenho certeza! Vai se desesperar, enlouquecer... Pobre Clara. A culpa é minha!
...
Térreo. - Minha mãe, eu vim!
André Vargas
Cetim rosa
até sentirmos cheiro de fumaça
e explodir.
O tempo não parou
não parou meu amor!
E o caminho segue.
Como uma reta,
seguimento de pontos.
O momento é falho,
os músculos contraem,
e a gota cai.
Pegue um lenço,
coma um doce,
que os sorrisos logo voltarão
a sorrir naquele apê.
Onde nada aconteceu.
Lívia Frias
quarta-feira, 12 de outubro de 2011
Um gole de prata
Prata na corrente que carrega ao pescoço. Crucifixo sem batismo pendurado, perdoado. Encostado ao balcão, jogado, desgostoso. Pede mais uma dose de qualquer rasgo, qualquer tipo amargo paga! Poucos pelo saguão. Nulos pelas mesas. Sobras sob o balcão. O bar é o reflexo do que sente antes de dormir. Vazio. Uma aspirina, uma insônia, um trago de fim de gimba, uma luza acesa, um curto espaço de sono e sonha só brevidades. Muitos e muitos desencontros, o barman sabe de cor os seus entraves. Bebe, numa talagada só, toda a aguardente servida pela milésima vez, mas deixa no fundo uma lágrima sua, um gole duro de pura prata. O nó na garganta, porém, continua. Joga umas notas no balcão e acena. Saí de cena trombando no cenário. E foge do bar que não aliviou o caos do tempo. Chove por fora e por dentro. A rua é escura e os postes piscam. Trovoadas. Testa os caminhos de lamas de volta para casa... Erra todos! Erra de vida. A divida consigo é maior do que os planos. Iam viajar esse ano! Acha, por acaso, o fio da volta no resto de suas migalhas, nem mesmo os pombos quiseram comer de seus resquícios. Mora no beco escuro, rua sem saída. Até a sua casa está dividida e as crianças não dão mais risadas na porta de entrada. Chega zonzo, mas, dessa vez, dorme feito pedra. Jogado no chão sujo e frio preparado por Deus. Aquele mesmo Deus, pai de seu crucifixo. Aquele Deus de prata. Aquele Deus que mata. Aquele Deus que nunca foi seu.
André Vargas
terça-feira, 11 de outubro de 2011
Por que...
O que ficou pelo caminho
O começo
O meio
O fim
As sobras
Tanta coisa ainda há
Do pouco que sinto
Lorena Brites
Desleixo
Comover-me
É como ver a mim mesmo
Andando a esmo
Mesmo andando por cá.
Desamarrados tênis
Para tropeços
Amarrotadas calças
Para passar
Meias cansadas, manchadas
Nos calcanhares
Muitos lugares
E sou de nenhum lugar
Pelos na cara
A crescerem com o tempo
E pouco tempo
Para me pentear
Camisas tolas
De desenhos felizes
Caminham sós de tanto eu as usar.
Desleixo
Deixo a roupa suja no sexto
Mas recolho a minha vida da corda
Antes mesmo de ela secar.
André Vargas
segunda-feira, 10 de outubro de 2011
creme ocidental
ex religioso unidos sem cacife
tarde qualquer
na fila do tédio
veio um poeminha de portão
pariu no papel um clássico
reciclável, concreto, sua solução:
acendeu
e explodiu!
no concurso público pra Poetas do Brasil
(às más línguas,
seu mês agora engorda cinco mil)
delírio no batente
cafezinho sem pressa
e bicando o país pra frente
ontem mesmo
belém deu uma mão
contra a dívida mobiliária
descolando uma campanha
da própria cara :
cobre o aluguel da estante
saque o poeta
no instante.
Nenheu Neves
domingo, 9 de outubro de 2011
Ser
que existe algo
além do Céu,
que não podemos ver.
Viver na vida como se vive,
aceitar a condição de ser
sem entender a função, inibe.
Buscando propósitos,
nas mais místicas hipóteses
e vivendo de medos pragmáticos.
Em tudo que há,
em tudo o que é,
no que já não se sabe.
A verdadeira razão do porquê,
o real sentido do como,
O motivo do quê,
a clareza de ser.
Lívia Frias
Tempo de errar
Aqui sinto medo
De me perder de mim
Em segredo, em segredo
Inseguro
Festim.
Aquilo que quero
Posso nunca tocar
Um segundo, um segundo
O tempo de errar.
André Vargas
sábado, 8 de outubro de 2011
Antônia
Te olhando assim, nem dava para descobrir.
O que havia por trás das suas risadas, sua voz mansa e seus sutis gestos com as mãos. Queria saber por que você me escondeu isso tudo.
Quando me veio a notícia, me senti o maior culpado de vê-la doente. Aquele seu estado que me arrepiava, nem suporto lembrar de ver seus ossos protuberantes por passar semanas sem se alimentar direito. Me dava frio no estômago, e eu me perguntava: "- O que eu deixei passar?". Você me parecia tão bem. Todos os dias em que nos víamos eu lembrava sempre de olhar em seus olhos antes de me despedir. E a princípio, o que era verdade para mim e estava claro, você era feliz. Por mais úmidos que ficassem os seus olhos em certos momentos nossos, juntos, eu voltava pra casa com a certeza de que os veria brilhar novamente. Pode ser que eu não tenha lhe dado a devida atenção, de não ter olhado como realmente deveria, um admirar leviano de apaixonado. Talvez esse tenha sido o meu maior erro. Não perceber, cegar meus olhos e não enxergar os seus, quando a todo o momento você me dizia não estar bem. Eu sei que você foi sincera a todo custo, mas eu não me dei conta, foi tarde. E sentado ali naquela cadeira eu te esperei, por semanas se recuperar e voltar a me abraçar como se acolhesse num ninho. Mas você não voltou.
E foi a primeira vez que estive com você a todo momento.
Lívia Frias
Hiato
Um dia te fiz um mau, mulher
Daqueles irreparáveis
Honrei meu papel de homem
Fui covarde.
Fui honestamente cruel
Como sempre é a verdade
Fui um hiato em sua vida
Fui covarde.
André Vargas
quinta-feira, 6 de outubro de 2011
Primeira vez
Nathália Godoy
quarta-feira, 5 de outubro de 2011
Tempo
O tempo desgasta
As solas de suas sandálias
No chão das nossas cucas
Arrasta seus pés cansadamente
E deita na rede dos sorrisos
Enrugando o canto seco
Em nossas bocas.
O tempo é o velho de chapelão
Que, melancólico, vai pela calçada
O tempo é a todo tempo
Nada.
O tempo é a ferida inflamada na perna
O mato no casco do potro
O tempo é a todo tempo
Outro.
Andre Vargas
Felizes para sempre
Nathália Godoy
terça-feira, 4 de outubro de 2011
Que Homem
Eu sou o que todo homem é
Um misto de querer e dever ser
E com isso,
Sou o que deu pra ser
Longe do perfeito
Perto do medíocre
Um pouco mais educadinho aqui
Um tanto gente boa ali
E nada mais
Guilherme Braga
SEM MAIS PALAVRAS
Por tudo que se falou,
e que não se fez,
mas se sonhou
É por isso e muito além disso,
O que soou foi inaudito
O que se falou é indizível,
O que ainda há em mim
e transpõe-se da minha carne,
O que restou será timbrado!
Lorena Brites
segunda-feira, 3 de outubro de 2011
Andarilhas
Elegantes com seu vestido macio
A cada passo leve
Guiadas pelo vento, pelo frio
Esperadas e observadas pelo domingo
Molhando os pés do meio-fio
Se desfazendo a cada pingo
Basta ser nuvem pra saber o que é a imensidão.
Caio Vargas
A louca
Nathália Godoy