segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

Perdão à Poesia


Desculpe-me, poesia
Não sei lhe emprestar rima
Nem domar-te nas normas previstas,
Muito menos lhe dividir em quartetos.

O que ofereço é minha alma
Meus sentimentos singelos e ingênuos,
Dos quais - ó, que pecado! - não extraio tantas emoções
Nem vivências, nem molejo.
São as mesmices de sempre
Que vivemos sem precisão.

Desculpe-me se te ofendo
Se te mal interpreto ou mal expresso.
São só palavras, afinal.
Espero, um dia, que as receba como suas
Assumindo-as como suas
Sem opor-lhes nem o ponto final.

domingo, 20 de janeiro de 2013

Adeus Antonina


Eu...
Eu já não sei mais o que fazer.
Só de pensar já me bate um cansaço...
Sou um fardo pra minha família.

Ninguém quer perder seu tempo cuidando de mim.
Só Dona Teresa que ainda tem paciência comigo.
Só como com ela.
E o banho também.

Ah, o banho!
Se eu pudesse nem entrava mais naquele banheiro.

Despir-me, pra uma estranha...

Em pensar que me escondi todo esse tempo de Roberto. Ai que vergonha!
Acho que isso eu até aturo.

Sabonete sou eu que passo, ai dela!
Mas a pior parte é quando eu me sento ao vaso.
Se minhas pernas ainda me atendessem, correria direto para cama, pra não ter que encarar aquele espelho velho.

Aquele quadrado enferrujado podia cair no chão.
Nem sei o que ele ainda esta fazendo ali.
Vaidade daquelas incompetentes, aposto!
Malcriadas.

Ou, pra me deixar triste?
Pra eu ver o quanto estou feia?
Velha?
Magra?
Inválida?

(Choro)
Ah minha juventude!
Minha juventude...

A maquiagem já não me serve mais.
Só vejo acúmulo de pó entre as rugas.
E essas mãos? Manchadas, grossas, sem brilho.
Essas bochechas caídas, os olhos tristes, meus poucos pelos.
Lembro-me bem quando Roberto me elogiava por esses olhos. (Risos).
O Sol conseguia deixá-los mais belos, e como brilhava como iluminava seu sorriso.
Hoje, estão opacos, escuros e sem vida. Mal consigo abri-los com o peso das pálpebras.

Por que este espelho ainda está aqui?
Pra me lembrar que estou prestes a morrer?
Não quero, não quero, não quero! (Mãos ao rosto)
Não quero.

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Cabeças de elefantes


Trombadas amigas servem para corrigir a hora
O relógio anda meio atrasado para rir
E adiantado para sentir
Nós elefantes e nossas trombas elegantes
Seguramos nossos rabos e andamos juntos
Sugamos a água como cocaína
E jorramos boca à dentro
Mais um gole de cólera líquida
Que Zygmunt me salve das teorias
Pois ando meio desastrado nos argumentos

Amendoins e torrões de açúcar para nós todos
Dá até para assistir a algum jogo
Ou esperar o carnaval
Empate, nocaute, fatal
Minha terra, meu circo, meus vícios...
Sempre me acompanham e me levam ao lugar comum
De ser datado e fichado e singelamente estigmatizado
Por mim
Ser incorrigível
Ser intragável

Sou como um primeiro trago
Sou a desgraçada tosse que entrega o novato
Sou sem o ser para mim, sou para a alteridade
Mas, já que é assim
Assumo a culpa
Visto a roupa de vilão
E saio para passear
Sujando com meus passos o chão.

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

Nasceu.
Cresceu.
Amadureceu.
Envelheceu.
Morreu.

O meu apego.

Quem nasceu primeiro?

A música
ou a dança?

O trem das..

Já é de manhã bem cedo
E já se passaram dois trens
Um que corre sem medo
E o outro que não dá um passo
Com uma carga já sem espaço
Que já necessita ir além
E devagar ele vai
Quem o espera não encontra vivo
E a carga dali não sai
Só falta um motivo
Pros seus passageiros sairem pelas janelas




Caio Vargas