Eu...
Eu já não sei mais o que fazer.
Só de pensar já me bate um
cansaço...
Sou um fardo pra minha família.
Ninguém quer perder seu tempo
cuidando de mim.
Só Dona Teresa que ainda tem
paciência comigo.
Só como com ela.
E o banho também.
Ah, o banho!
Se eu pudesse nem entrava mais
naquele banheiro.
Despir-me, pra uma estranha...
Em pensar que me escondi todo
esse tempo de Roberto. Ai que vergonha!
Acho que isso eu até aturo.
Sabonete sou eu que passo, ai
dela!
Mas a pior parte é quando eu me
sento ao vaso.
Se minhas pernas ainda me
atendessem, correria direto para cama, pra não ter que encarar aquele espelho
velho.
Aquele quadrado enferrujado podia
cair no chão.
Nem sei o que ele ainda esta
fazendo ali.
Vaidade daquelas incompetentes,
aposto!
Malcriadas.
Ou, pra me deixar triste?
Pra eu ver o quanto estou feia?
Velha?
Magra?
Inválida?
(Choro)
Ah minha juventude!
Minha juventude...
A maquiagem já não me serve mais.
Só vejo acúmulo de pó entre as
rugas.
E essas mãos? Manchadas, grossas,
sem brilho.
Essas bochechas caídas, os olhos
tristes, meus poucos pelos.
Lembro-me bem quando Roberto me
elogiava por esses olhos. (Risos).
O Sol conseguia deixá-los mais
belos, e como brilhava como iluminava seu sorriso.
Hoje, estão opacos, escuros e sem
vida. Mal consigo abri-los com o peso das pálpebras.
Por que este espelho ainda está
aqui?
Pra me lembrar que estou prestes
a morrer?
Não quero, não quero, não quero!
(Mãos ao rosto)
Não quero.
Nenhum comentário:
Postar um comentário