domingo, 20 de janeiro de 2013

Adeus Antonina


Eu...
Eu já não sei mais o que fazer.
Só de pensar já me bate um cansaço...
Sou um fardo pra minha família.

Ninguém quer perder seu tempo cuidando de mim.
Só Dona Teresa que ainda tem paciência comigo.
Só como com ela.
E o banho também.

Ah, o banho!
Se eu pudesse nem entrava mais naquele banheiro.

Despir-me, pra uma estranha...

Em pensar que me escondi todo esse tempo de Roberto. Ai que vergonha!
Acho que isso eu até aturo.

Sabonete sou eu que passo, ai dela!
Mas a pior parte é quando eu me sento ao vaso.
Se minhas pernas ainda me atendessem, correria direto para cama, pra não ter que encarar aquele espelho velho.

Aquele quadrado enferrujado podia cair no chão.
Nem sei o que ele ainda esta fazendo ali.
Vaidade daquelas incompetentes, aposto!
Malcriadas.

Ou, pra me deixar triste?
Pra eu ver o quanto estou feia?
Velha?
Magra?
Inválida?

(Choro)
Ah minha juventude!
Minha juventude...

A maquiagem já não me serve mais.
Só vejo acúmulo de pó entre as rugas.
E essas mãos? Manchadas, grossas, sem brilho.
Essas bochechas caídas, os olhos tristes, meus poucos pelos.
Lembro-me bem quando Roberto me elogiava por esses olhos. (Risos).
O Sol conseguia deixá-los mais belos, e como brilhava como iluminava seu sorriso.
Hoje, estão opacos, escuros e sem vida. Mal consigo abri-los com o peso das pálpebras.

Por que este espelho ainda está aqui?
Pra me lembrar que estou prestes a morrer?
Não quero, não quero, não quero! (Mãos ao rosto)
Não quero.

Nenhum comentário:

Postar um comentário