segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Memória

A memória
demora
pois mora
nas horas
do engarrafamento

Quebrantada
desconexa
mora em Joyce
mais do que assumo

A memória
me olha
A memória
me mostra
o não-rumo.

Matéria

A matéria
miséria
me zera
e me erra
o alvo

Em terra
Firme!

Em solo
Fértil!

Em mar
Alto!

Gotas de sangue

Uma caneca de vinho barato
Promoção de mercado
Jayme começou a chorar

Goles e goles de vômito roxo
Tirados da geladeira
Como não se deve fazer
Lembrar

Caneca vermelha
Sangrando frutado
Jayme com o gato no colo
Olhando o espelho cuspir

Ronrona o bichano
E o dono
Um sono
Que chega e não larga
Um dia e uma noite em Praga
Jayme não sabe mentir

O chocolate suíço nos lábios
O relógio parado no pulso
A convulsão dos soluços
A solução de viver

Morto
Parado
Estanque
Forçado a esquecer o que antes

Com toda a força quis ser.



André Vargas

sábado, 17 de agosto de 2013

Só sou poeta
Enquanto escrevo
poesia
Nas horas vagas
Eu sou só
monotonia.
Cu e calça
Calça e cu
Veste a calça
Limpa o cu
Na calçada
Único 
Bico
Trico
Salamê mim cu.

Coisidade

Apetrecho
Treco de apertar treco
Coisa que esqueço o nome
Mas o uso 
Para inventar um só para mim.

Sopra mim
Negócio de fazer vento
Troço sem movimento
Enfim, seu sentido é fim.

Um anel
nela
elo
véu
vela

tudo vi
ria
virar pó 
e sia.

quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Seco

Seda rasgada
A pele russa do cotovelo
Rachada, seca, boca
A boca novelo
Esporão doído, sarnento
Puro segmento da vida
Escorrem pus de velhas feridas
Chagas chacais
Sincope lida

Comprimidos astrais
Sonambulas bulas rotas
Rituais e arrotos da noite
E dançam doidos sapos zuretas
Cantando grilos nas grelhas chamuscadas
Queimando os pés nas brasas dos cenhos
Senhores sapos donos do coacho
E seus maledicentes risos pausados

Acumulado
Mulato peito aberto amolado
Da faca, um corte, feito espada
Adaga feito faca de pão
Um empurrão
E caio feito caco de vidro
Gargalo aberto
Livro esquecido
Acostumado
Feito um leão
Sem dentes, sem presas
Creme de carne
Chicote, circo, homem
Sofrível
Indistinguível na multidão.



André Vargas 

terça-feira, 6 de agosto de 2013

Sou uma penca de penas podres
Descascadas pernas
Morto-motores 
ligados
Escancarados barulhos
alucinados
Sou uma penca despencada
De ardores inúteis
De palavras fúteis
De fingimentos
de pessoa

Mísseis
que miram em mim e erram
Flores.