“Beija a minha mão?”
Foi a última frase que eu ouvi dela. Corpo grande e frágil,esparramado em um leito desconfortável. Seu olhar era distante, embora aindatentasse encontrar nossas sombras. Triste, porém decidida, pronta. Não haviamais o que temer, nem o que esperar. Enquanto ininterruptamente pedia:
“Beija a minha mão?”
Tal qual uma criança que pede a mesma brincadeira. Mas aslágrimas coletivas nos arrancavam o riso. A ação repetitiva não nos cansava.Beijávamos, acarinhávamos, abraçávamos para darmos conta de todos os beijos ecarinhos e abraços que um dia deixamos de dar.
A hora era certa, e isso era certo para todas. Era adespedida. Era o amor e o agradecimento finais enquanto matérias presentes nomesmo espaço. Todas sabiam e, apesar da tristeza, a missão havia sido cumprida.Era chegada a hora das dores cessarem, dos corpos descansarem, das preocupaçõessumirem, do sono chegar. Finalmente todas iriam dormir em paz.
“Beija a minha mão?”
Até que se deu o último beijo e, com ele, o adeus para daquia pouco.
Carolina Gonçalves
Lindo!
ResponderExcluir... e triste, pode falar. rs
ResponderExcluirinteressante como os parágrafos deram uma maior suavidade no texto, gostei!
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