terça-feira, 1 de novembro de 2011

Último Pedido

“Beija a minha mão?”

Foi a última frase que eu ouvi dela. Corpo grande e frágil,esparramado em um leito desconfortável. Seu olhar era distante, embora aindatentasse encontrar nossas sombras. Triste, porém decidida, pronta. Não haviamais o que temer, nem o que esperar. Enquanto ininterruptamente pedia:

“Beija a minha mão?”

Tal qual uma criança que pede a mesma brincadeira. Mas aslágrimas coletivas nos arrancavam o riso. A ação repetitiva não nos cansava.Beijávamos, acarinhávamos, abraçávamos para darmos conta de todos os beijos ecarinhos e abraços que um dia deixamos de dar.

A hora era certa, e isso era certo para todas. Era adespedida. Era o amor e o agradecimento finais enquanto matérias presentes nomesmo espaço. Todas sabiam e, apesar da tristeza, a missão havia sido cumprida.Era chegada a hora das dores cessarem, dos corpos descansarem, das preocupaçõessumirem, do sono chegar. Finalmente todas iriam dormir em paz.

“Beija a minha mão?”

Até que se deu o último beijo e, com ele, o adeus para daquia pouco.



Carolina Gonçalves


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