segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Dose

Um gole de aguardente
Aguardante veneno
O esperado “de repente”
De rompante condeno
Derrapante calhambeque
Alambique de feno
Transformo-me num delinquente
Delatando boleros.

Transborda a alma corrente
Grilhões de mil vis austeros
Aos teus pés descalçados
Descompassar dos cadernos
Bonitas frases rimadas
Odes ao ódio sincero
Que encerro ao cerro dos punhos
Ao serrar do visgo do erro
Canteiro de vidas jogadas
Cruel cemitério do medo
Vícios do início do vício
Suplícios do álcool que bebo.

Sou mais vivo quando erro
Mais dono quando entrego
Sou mais eu quando me nego
Soldado de chumbo
No fundo do mar
Ainda caindo.

Vou descendo vertigem
Descendendo de virgens
Decadente de origens
Dessas dos santos que fingem
E infringem dosando fuligens
Que seus mantos brancos dirigem.


Rasga-me o último gole
Amei-o...

No corpo cheio
Nu
No copo vazio
Cru
Meio que me nomeio
Um.



André Vargas

6 comentários:

  1. duas coisas. uma que parece recorrente a sua relação com a bebida. assim falando soa até engraçado, mas não é o objetivo... eu reparei: xícaras, balcões, copos, goles. mas na verdade isso me orienta pra uma mensagem por trás desses objetos/atos: líquido. essa é só uma divagação de quem lê, cheia de chance de não ter nada a ver, como quase todas são, mas interessa pensar nesse 'estado liquido' que têm algumas suas entrelinhas. a outra coisa é menos criativa: parabéns, MTO bom. eu sinto falta de saber escrever sem achar graça do resultado! mas não tenho habilidade de ser 'séria' em poesia... sei lá. impressionar etc

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  2. será? não li, masss pelo o que dizem, não foi o que quis dizer, hehe

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  3. O "tudo" líquido! Gosto disso e gosto muitíssimo do autor... Não me espelhei nele em momento algum, e talvez por isso não seja disso que você fale, mas quando você ressaltou a minha liquides nos meus textos foi no que eu naturalmente pensei.

    E sempre "vivas" à quem merece "vivas" - Viva Zygmunt Bauman!

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  4. eu entendi, é isso aí!
    (obs.: também, de cara, lembrei desse livro).

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  5. assim como nos textos da Mathália eu reparo no Descanso! o cansaço/descanço vira-e-mexe pintam.
    eu gosto de reparar!
    tenho reparado agora nos de Lorena.
    bjs

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