quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Domingo

Já não faz as coisas como fazia antes. A perna esquerda já não caminha bem, a bengala passou a ser uma fiel companhia. Não vive mais com gatos e nem cachorros, muito menos com filhos. Pelo menos não tem mais a trabalheira e o lava pratos dos domingos. Divide o apartamento com uma imagem de Santo Antonio, quem já lhe foi muito útil. A catarata já não lhe deixa acompanhar a novela muito bem, por isso achou mais vantajoso vender a velha televisãozinha e comprar os óculos. Ou a TV, ou os óculos. Um não podia existir com o outro, mas também, um não tinha utilidade sem o outro. Pega todo santo dia o mesmo ônibus no Passeio. Ela não sabe o porquê, mas gosta do entra e sai de gente do ônibus.  Acha por bem avisar sempre ao motorista aonde vai saltar. Pede para ele parar em uma dessas ruelas antes do Campo de Santana. Mostra o portãozinho aonde mora, o prédio é velho, é desses que foram esquecidos de ser tombado.  Desce do ônibus, atravessa a rua como se não quisesse chegar ao outro lado. Abre a portão de madeira com dificuldade, a luz não favorece e a vista já quer descansar. Ela acena para o motorista como quem diz “pode ir agora, despreocupa-se”. Ela gosta de pensar que ele toma conta dela. O sinal abre e o motorista arranca o carro com pressa. Ela queria que amanhã fosse domingo, e que a pia estivesse cheia de louça para ela lavar. 

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