É a última estação para o ser humano. O fim da linha.
Começam as despedidas, os últimos conselhos, as últimas lembranças. Enfim, a
decrepitude! Ponto de partida ou chegada?
É tempo do cheiro de
alfazema vencida, ou será naftalina? Ou ainda uma pomada qualquer, para
remediar assaduras ou a alma já sem cura.
Nos olhos a vida passa embaçada. A TV voltou a ser sem cores
e já nem sei mais o que se passa nela. Chega para meus olhos reconhecerem
pessoas jamais antes vistas. Teimam em me fazer recordar, contam-me sobre
aventuras nunca vivenciadas antes por mim. Será que falam de outro alguém?
Posso jurar que minha vida começou no instante que sai do banheiro e caminhei
até esta cama. De que vida elas falam?
Caminho em passos lentos nesta última estação. A impressão
que dá é que vivi o tempo inteiro só este dia. Já se passou o natal? Já se
passou fevereiro? Já se passou minha vida?
Já não sei onde habito, o que habito e porque ainda habito. Viram-me, me despem, me trocam, me tocam, sem
autorização. Me dão de comer, de beber, me medicam e já nem sei para que servem
os cuidados. Cuidam ou livram-se da culpa? Amam ou apenas seguem os sagrados
mandamentos?
De que adiantou uma vida inteira? De que me adiantaram os
cem anos? De que me serviu tanta prevenção e medo? Para quê todo amor que
senti? E tanto ressentimento acumulado? Se nada tenho deles, além do seu fim.
triste velho
ResponderExcluirvelho triste
Magnífico, coisas que não sabemos, tema e perspectiva geniais (como eu não pensei nisso antes?), mas os elogios que eu te digo têm perdurado somente até o próximo texto que desbanque e sempre tem desbancado... Os seus passos vão se "acompridando". Este texto é daqueles que, quem escreve ,amadoramente como nós, se sente vencido e ultrapassado!
ResponderExcluirVocê é sempre uma grata surpresa para mim! Você já é das pessoas que eu gostaria de ler o livro (e espero que seja logo).
Minha admiração e orgulho são seus!