quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Sobrado em cima de sobrado


Uma confusão arquitetônica. Mistura de tempos, todos ao mesmo tempo. E o tempo contado de dentro para fora, de cada janela de um sobrado. Estruturam-se em cima da história, não sobre o cimento, nem sobre o concreto, são erguidos sobre o passado. O que se esconde por dentro da cidade? Em cada ruela, um mistério. Em cada beco sem saída, um fugitivo. Em cada travessa, um adultério.  Em cada esquina, uma nova vida. Do outro lado da passarela, sempre o imprevisto. A cada passagem pelos mesmos lugares, descobre-se sempre o que antes estava imperceptível. Uma nova rachadura. Uma segunda mão de tinta. Um desbotamento qualquer. Um velho fumando cachimbo na porta. Um encantamento a primeira vista. Em cada sobrado que se mantêm poderoso, por cima de lojinhas e lanchonetes, encontra-se um mundo todo. Serenos como gigantes adormecidos. Imponentes como um Imperador que se recusa a deixar o trono. Nossos olhos só alcançam fachadas. O que salta das varandas é beleza, é luxúria, é suor, é verdade. O que se esconde por dentro dos sobrados? As histórias, as memórias, um fantasma com medo do escuro, madeiras que falam sozinhas, e encontra-se  o passado mais presente do que nunca.

Nathália Godoy

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