O café desce estalando a garganta
Não me recordo de quando me tornei tão descritivo
Quando fiquei tão discreto? Tão prescrito?
(In)concluo.
Dia frio é o meu favorito
Para só ver e sorver assovios de janelas
Cheio de detalhes entalhados vivos
Nas poucas lembranças de ser tão externo
E na doce lembrança de não ser tão nítido
Eu resfrio as juntas do dedo
E, em segredo, junto-me ao calor do frio.
Nos dias frios o olhar negro da xícara nos encara mais efusivo
De relance, mas um relançe contínuo
Realça e lança sobre nós o próprio vício.
Há pouco de mim nas paredes da constância
Estou totalmente, pelos quadros na parede, absorvido
Perdido
Absorto em só detalhar o entorno
E pelas molduras robustas perseguido.
Entorno sobre minha roupa elegante
Um gole quente e errante de vivência
Sinto queimar a pele
Sinto a pele ardente
Sinto, no limite extremo de minha vida, a clemência
Divinamente escondida
A carpe: superfície individual, a margem da doutrina, o fio do egoísmo...
O exterior, suplantando o interno nevralgico, me convida
Ao simples decorar das coisas, dos ornamentos
Ao arrepio frívolo do não-sentimento
Pois nenhuma reflexão é tão importante quanto flexionar o sujeito, o alheio, o joelho, o cotovelo...
E me convém, agora, escrever nesse espelho
Que se forma na superfície dura do mim
Do mingau
Do café
Do mundo.
Bebo o resto, peço a conta, pago e saio mudo.
André Vargas
depois q se lê
ResponderExcluirolhar negro da xícara
fica difícil de se concentrar...
achei belchioriano o lance da reflexão
ResponderExcluirEste comentário foi removido pelo autor.
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ResponderExcluirUm flerte com o oco de se pensar!
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