quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Outono

Eu não havia dormido em casa aquela noite. Fui me esquecer na casa de um desconhecido, até hoje não me recordo bem o nome dele. Estava revoltada com tudo que andava acontecendo. Foi muito mais fácil contar a ele meus problemas, minhas angústias, ele me ouviu bem. Até porque depois dali, seríamos mais ninguém, nem para um nem para o outro. Ele me deu a companhia, os ouvidos que eu queria e eu a ele, dei meu corpo.
No dia seguinte, resolvi voltar para casa. Ao colocar os pés onde me pertencia e fazer um baita barulho ao entrar, batendo com força o portão de metal, ouço meu pai gritar da cozinha perguntando se eu havia errado o caminho.
Entrei sem falar e fui direto ao meu quarto. Tudo estava no mesmo lugar. Parecia que o tempo não havia passado. Eu não queria estar ali.
Olhar de novo aquelas paredes me fazia lembrar tudo o que eu me forçava a esquecer, era de sufocar. E pra onde mais fugir?
Sem dinheiro, sem profissão. Ao menos tivesse cultivado mais amores e amigos, haveria ao menos um canto para me recolher. Mas nem isso eu tinha.
Aquela noite em que fugi não parava de voltar à cabeça, como um cd arranhado, que repete um trecho da música 300 vezes se você não der stop. Eu não tinha saída.
E ao perceber a minha situação, caí ao chão com falta de ar de tanto soluçar. Chorei feito criança. Estava largada no chão, sem mais esperanças naquele quarto escuro, onde esperava por mais uma noite de abuso e sofrimento.

Lívia Frias

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