Prata na corrente que carrega ao pescoço. Crucifixo sem batismo pendurado, perdoado. Encostado ao balcão, jogado, desgostoso. Pede mais uma dose de qualquer rasgo, qualquer tipo amargo paga! Poucos pelo saguão. Nulos pelas mesas. Sobras sob o balcão. O bar é o reflexo do que sente antes de dormir. Vazio. Uma aspirina, uma insônia, um trago de fim de gimba, uma luza acesa, um curto espaço de sono e sonha só brevidades. Muitos e muitos desencontros, o barman sabe de cor os seus entraves. Bebe, numa talagada só, toda a aguardente servida pela milésima vez, mas deixa no fundo uma lágrima sua, um gole duro de pura prata. O nó na garganta, porém, continua. Joga umas notas no balcão e acena. Saí de cena trombando no cenário. E foge do bar que não aliviou o caos do tempo. Chove por fora e por dentro. A rua é escura e os postes piscam. Trovoadas. Testa os caminhos de lamas de volta para casa... Erra todos! Erra de vida. A divida consigo é maior do que os planos. Iam viajar esse ano! Acha, por acaso, o fio da volta no resto de suas migalhas, nem mesmo os pombos quiseram comer de seus resquícios. Mora no beco escuro, rua sem saída. Até a sua casa está dividida e as crianças não dão mais risadas na porta de entrada. Chega zonzo, mas, dessa vez, dorme feito pedra. Jogado no chão sujo e frio preparado por Deus. Aquele mesmo Deus, pai de seu crucifixo. Aquele Deus de prata. Aquele Deus que mata. Aquele Deus que nunca foi seu.
André Vargas
Um belo conto carregado da mais pura sensação da amargura.
ResponderExcluir16 toneladas
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