A calçada
A poça d’água
A barra da calça molhada
As pessoas apressadas
Os guarda-chuvas em duas tomadas
Em cima guardam chuva
Em baixo, pensamentos
Vento
Homens de casacos
Mulheres de jaqueta
A criança e o passatempo
O bebê de toca rosa
Cachecol, capa e sobretudo
Um surdo-mudo falando sozinho
Um segundo de passarinho
Mulheres de minissaia
Pernas gordas respingadas
Arte temporal
Varizes e gotas de lama
Sandálias
Pés imundos
Esmaltes descascados
Calçados cansados
Mocassins
E afins
Inundação num segundo
É riqueza para se olhar
Lixo se joga no chão
Boneca a nadar
Sem os braços
Rato morto
Saco plástico
Água entrando na escola
Garota cheirando cola
Viaduto
Adulto
Maluco
Bêbado babando
Bando de trombadinhas
Trombam nas senhorinhas
Moleque a se divertir
Velha debaixo da árvore
Casca de batata pirata
Caminhão que escolhe
Molha quem se encolhe
Xingos
Mendigos dormindo
Risadas
Buzinas, silêncio do mundo
Passarela
Passa ela
Por cima da rua
Quase nua
E está frio
Vai garota do centro do Rio
Arrepio
E ela vê
E ela passa
Como o que é bom
Escada carcomida
Ferrugem nas veias da cidade
Camelô
Lonas azuis
Almas à prova d'água
Pistolas de bolha de sabão
Olha o pesado
Pesadelo
Bicicleta do velho sem emprego
Restaurante de pobre comer
A comida é joelho frio
Chinês sujo
Unha preta
Dente amarelo
Um suco de caju quente
Para empurrar a massa
Entornar no balcão
Molhar a palavra
Encharcar a sede
Inundar a alma
E, então, dizer:
- Até que é bom!
- Até que é bom!
- Até que é bom...
Chover.
André Vargas
Puta que pariu! Grande, mas muito lesgal!!!!!!
ResponderExcluirCubista!
ResponderExcluirque salada!
ResponderExcluir"Um surdo-mudo falando sozinho"
ResponderExcluir